Artigo - Oportunidade Brasil

Artigo – Oportunidade Brasil

Estamos acostumados a ouvir sobre o Risco Brasil (mudanças no cenário econômico que podem afetar o valor de ativos) e o Custo Brasil (dificuldades estruturais e burocráticas que aumentam os custos da produção local). Os dois temas estão presentes nas entrevistas com empresários e nas citações dos economistas. São reais e precisam ser debatidos. Têm forte presença em diversas narrativas. Chegam a ofuscar o outro lado desta mesma moeda que é a Oportunidade Brasil. É muito comum ressaltar as dificuldades e esconder as vantagens e oportunidades. A observação desse processo mostra um fluxo contínuo de iniciativas, descobertas e empreendimentos que são a força motora do desenvolvimento, do avanço social e do surgimento de novas soluções. É o trabalho de muitos que superam dificuldades, aproveitando oportunidades.

Existem muitos exemplos de empresas que olharam a Oportunidade Brasil. A Simpar é uma delas. Controla empresas de logística e transportes, como Movida e JSL. Em 2022, obteve receita líquida de R$ 19,1 bilhões. É uma holding com operações independentes e complementares nos segmentos de logística, mobilidade, saneamento, infraestrutura, concessões e serviços financeiros. Criada em 1956, na cidade de Mogi das Cruzes (SP), pelo imigrante português Julio Simões que reconheceu as dificuldades e as oportunidades oferecidas pelo país. Em 2010, a JSL (Julio Simões Logística) fez a abertura de capital na bolsa de valores (BR3). Nos anos seguintes, investidores trouxeram o capital que promoveu o crescimento dos negócios. Em 2020, é lançada a marca Simpar, com a reorganização societária que simplificou a estrutura do grupo.

Este exemplo demonstra não só a força do mercado interno do país, como a expansão dos negócios de exportação. Em 2023, as crises internacionais e a transição energética colocam o país diante de uma maior inserção mundial. Chegamos até aqui após décadas de expansão das atividades portuárias, do transporte marítimo, da logística integrada, da exportação do agronegócio e da produção offshore de petróleo.

Enquanto escrevo este artigo penso sobre o futuro que será revelado ao meu neto, agora com 11 anos. A caminhada, desde a década de 1950 revelou um país capaz de articular seu desenvolvimento. Uma visão do futuro foi apresentada, em março, na Comex 2023. Fernando Ulrich, da Liberta Investimentos, apontou os fatores que se destacam na reordenação do panorama da economia mundial: 

Rompimento com a globalização e a formação de blocos regionais e tensões geopolíticas, entre China e Estados Unidos, reduzindo o compartilhamento de tecnologia.

Crise e oportunidade energética; a transição para fontes mais limpas passará primeiro por maiores investimentos em gás e petróleo.

Mudanças nas moedas de reserva, pagamentos internacionais e câmbio; a geopolítica colide com o sistema financeiro, por ter invadido a Ucrânia a Rússia foi excluída do Sistema Swift de transferências bancárias internacionais. 

O economista Ricardo Amorim aponta que a geopolítica cria a tendência de os países estarem se fechando para a economia globalizada para privilegiar os blocos regionais. Movimento que pode gerar crises de abastecimento e comprometer a produtividade de empresas em todo o mundo. Especialistas em inteligência e estratégias comerciais internacionais usam o termo “nearshoring” que representa a realocação das encomendas para unidades produtivas mais próximas de suas fronteiras e costas marítimas. O jargão vem para substituir a globalização que representa a “offshoring”, indicando as compras direcionadas a países da Ásia. O México é o país considerado como opção para abrigar o “nearshoring” de uma parte produção para os EUA. É a opção para aumentar investimentos e empregos no México, reduzindo a corrente migratória que força romper as fronteiras do vizinho norte-americano.

É uma tendência que poderá beneficiar o Brasil. Já existem diversos setores que são atraentes para investidores internacionais com essa visão de produzir localmente. Um exemplo do setor de óleo e gás é a Aker Solutions, da Noruega. Tem unidades industriais locais, tem backlog de 130 árvores de natal molhadas no Brasil, anunciou em 2023 que pretende investir R$ 100 milhões no país e alcançar a marca de 2 mil funcionários. Com investimentos de R$ 1,3 bilhão nos últimos dez anos, a Aker consolidou o Brasil como o seu principal hub global subsea. Registrou o maior volume de pedidos de sua história em 2022 e executará a maior parte dos projetos localmente.

Existem empreendimentos em andamento que expressam o conceito de Oportunidade Brasil. Entre eles, podem ser citados:
MoveInfra — cinco grandes grupos do setor de infraestrutura, CCR, Ecorodovias, Rumo, Santos Brasil e Ultracargo, em dezembro de 2022, se uniram para criar uma nova associação setorial, MoveInfra. O foco será o setor de transporte e logística, o que inclui rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrovias e mobilidade urbana.

Mineração-ferrovia-porto — Bamin, a empresa mineradora no Brasil, do grupo Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão, está construindo um novo corredor logístico de integração e exportação na Bahia. O projeto é composto por três pilares: Mina Pedra de Ferro, no município baiano de Caetité; a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), arrematada em leilão o trecho de Caetité a Ilhéus; o Porto Sul, em Ilhéus, cuja concessão foi assinada em 2021, com previsão para iniciar obras em 2023 com conclusão em 2026, para escoamento de minério da mina de Caetité. O Eurasian Resources Group é dos maiores grupos da República do Cazaquistão. Com operações que representam mais de um terço de sua indústria de metais e mineração. Fornece eletricidade que representa um quinto da produção do país e é o maior operador ferroviário da Ásia Central. É uma das maiores mineradoras em operação na África.

Rota da Seda — O Maranhão foi convidado, em 2022, como o primeiro estado do Brasil a integrar o Plano Belt & Road Initiatives (BRI). Conhecida como Rota da Seda, conecta a China ao restante do mundo por uma rota marítima, através do programa mundial de investimentos, em países de todos os continentes, que compõem um terço da economia global.

Logística do agronegócio — No segmento de exportação de grãos, em fevereiro de 2023, as principais compradoras e exportadoras de soja e milho, Archer Daniels Midland (ADM), Amaggi, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company (LDC), entraram com pedido no Cade para formar uma joint venture no setor de transporte rodoviário, na qual cada sócio terá uma participação igual a 20%.

Parques eólicos — A CGN Brasil confirma inauguração do parque Tanque Novo para abril de 2023. O projeto eólico fica municípios de Tanque Novo e Caetité (BA), na região Sul do estado, com um total de 40 aerogeradores distribuídos em sete parques eólicos.

A CGN Brasil Energia e Participações S.A. é afiliada à CGN Energy International Holdings Co.Limited, da China, cuja operação no Brasil foi iniciada em 2019, após a aquisição dos projetos da Atlantic Energias Renováveis. A operação logístico-portuária de aerogeradores foi realizada em tempo recorde entre a China e a Bahia com a participação do terminal portuário da Enseada, em Maragogipe. No total, 40 turbinas foram recebidas e armazenados na área alfandegada do terminal e transportados até o empreendimento, há cerca de mil quilômetros de distância.

Potencial eólico offshore — Em março de 2023, Fernando Carneiro, Senior Geophysical Data Processor, divulgou o mapa das áreas em alto-mar com potencial para produção de energia eólica. Informou que o Brasil tem um imenso potencial para se tornar um dos principais players no mercado eólico offshore global devido ao seu extenso litoral e ventos fortes. Investir neste setor impulsiona o crescimento econômico e cria empregos. Para conseguir isso, o Brasil precisa de apoio do governo e investimento do setor privado em pesquisa, infraestrutura e desenvolvimento da cadeia de suprimentos.

 

Ivan Leão é diretor da Ivens Consult

Fonte Portos e Navios

https://www.portosenavios.com.br/

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