
Porto se prepara para navios de 366 metros
Empresas e prestadores de serviço se adequam para receber nova classe de cargueiros
O Porto de Santos está apto a receber embarcações de 366 metros. Para a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a estatal que administra o cais santista, com a atual infraestrutura do canal de navegação, é possível trafegar com navios da classe New Panamax, que são capazes de transportar 14 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Entretanto, terminais e a Praticagem de São Paulo apontam a necessidade da realização diversas obras estruturais.
Requisitos

Os terminais especializados na movimentação de contêine-res no cais santista têm especial preocupação com o aprofundamento do canal de navegação. Com navios maiores, o calado (distância vertical da parte do casco que permanece submersa) também é ampliado. E, diante das dificuldades do poder público em garantir a realização da obra, a concessão do serviço é apontada como a saída para resolver a questão.
“O maior obstáculo para a entrada desses navios é o calado. Sabemos que a Codesp e Capitania dos Portos têm investido muita energia no tema, com estudos aprofundados sobre a manobra desta classe de navios e aguardamos a confirmação dos novos parâmetros do Porto, ainda em 2018”, destacou o diretor de Operações da Santos Brasil, Marlos Tavares.
O diretor comercial da DP World, Fábio Siccherino, tem a mesma opinião. Para o executivo, apesar da Autoridade Portuária estar trabalhando para resolver a questão, é preciso encontrar uma solução para a manutenção do calado do cais santista.
Segundo Siccherino, o problema toma ainda mais importância quando outros complexos portuários brasileiros, como o Tecon Salvador (BA), já estão prontos para receber navios de 366 metros,
“Se não fizer, Santos corre o risco de perder o protagonismo de maior porto da América Latina”, destacou, apontando o risco de que as cargas sejam direcionadas a complexos portuários com melhores condições de infraestrutura.
Já a Brasil Terminal Portuário (BTP) acredita que apenas concessão da dragagem do Porto de Santos à iniciativa privada será a forma de resolver definitivamente as questões relacionadas ao calado do cais santista. A empresa aponta que há avanços nas discussões sobre a descentralização do serviço junto ao Governo Federal, mas ainda não há uma decisão do poder público. O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (MPTAC), que analisa a questão, afirma que “em breve” serão definidas as novas formas de contratação das obras responsáveis pela garantia das profundidades do cais santista.
“Passar a dragagem às mãos da iniciativa privada, através do modelo de condomínio, continua sendo uma importante solução capaz de fazer com que o Porto de Santos – de forma ágil, transparente e segura – esteja pronto para receber esses navios de grande porte”, destaca a empresa, em nota.
Demanda e capacidade não são problema
Há demanda e capacidade para o transporte de contêineres em navios de 366 metros no Porto de Santos, relatam executivos dos terminais especializados nesse tipo de carga no complexos. E segundo eles, suas instalações estão preparadas a receber essas embarcações de maior porte.
Para a Brasil Terminal Portuário (BTP), que fica na Alemoa, a demanda de mercado existe, contudo, ainda mais importante do que olhar o cenário atual é mirar o futuro.
“Esses grandes navios de 13 mil-14 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) estão sendo substituídos por embarcações ainda maiores de 19 mil-20mil TEU, que farão as rotas do Pacífico. Dessa forma, os navios de 13 mil-14 mil TEU terão que ir para algum lugar, e os navios costumam ir onde a carga está. Santos, nesse sentido tem expressiva vantagem competitiva, por estar localizado próximo a um dos principais polos industriais do nosso país”, informou a empresa, em nota.
Para o diretor comercial da DP World (DPW), Fábio Siccherino, a Ásia é o principal mercado dos produtos brasileiros. E a demanda para este continente é um dos indicativos de que é necessário garantir o acesso de embarcações de grande porte ao Porto.
“Se o Porto estivesse pronto, agora neste segundo semestre, esses navios já estariam chegando. Precisamos de mais serviços, mas primeiro é preciso crescer em tamanho”, afirmou o diretor da DP World, que fica na Área Continental de Santos.
O diretor comercial da Santos Brasil, Marlos Tavares, também afirma que há demanda para a utilização de embarcações de grande porte. Segundo o executivo da empresa que é responsável pelo Tecon, é inevitável que o País esteja preparado para receber navios de 366 metros.
“Precisamos observar duas variáveis: desde 1995 o segmento de contêineres cresce em torno de 2,5% acima do PIB (Produto Interno Bruto). E assim que o Brasil retomar o crescimento, o volume vai aumentar e com isso a necessidade de atender os navios desta classe. Além disso, a encomenda crescente de navios acima de 20 mil TEU (os maiores do mundo) para o trade Ásia x Europa gera um efeito cascata para os demais trades”, afirmou Tavares.
Preparação
O diretor comercial da DPW aponta que o terminal opera com capacidade ociosa, já que 1,2 milhão de TEU podem ser operados a cada ano e, em 2017, a movimentação atingiu 700 mil TEU. Também aponta o projeto de extensão de berço dos atuais 653 metros para 1.100 metros. “Ele deve estar pronto no início de 2020 e poderemos receber até quatro navios de tamanhos distintos ao mesmo tempo”, disse Siccherino.
A BTP aponta que o terminal receberá, no ano que vem, investimentos que vão garantir um aumento da capacidade operacional da instalação. Segundo ele, a preparação foi o recebimento dessas cargas foi iniciada no ano passado.
“No que se refere ao investimento para atender às grandes embarcações, temos a vantagem de nosso projeto já ter contemplado um cais de 1.108 metros de extensão, capaz de receber até 3 navios da classe New Panamax simultaneamente e 8 STSs (guindastes) de última geração capazes de operar navios com até 24 fileiras de contêineres. Além disso, a estrutura dos berços de atracação do terminal já estão preparados para atingir até 17 metros de profundidade”, destacou a empresa.
Segundo Marlos Tavares, apesar da Santos Brasil estar apta a receber navios de 366 metros, a empresa pretende investir R$ 100 milhões até o final do ano no terminal.
“Já compramos 30 reboques e 30 terminal tractors que fazem a movimentação de contêineres do pátio até o costado, e estamos negociando dois novos portêineres. Serão equipamentos modernos e mais ágeis, com menor impacto ambiental. Nosso projeto para o Tecon Santos prevê investimentos de R$ 1,2 bilhão e amplia a capacidade do terminal de 2 milhões de TEU para 2,4 milhões de TEU ao ano”, destacou.
Fonte: A Tribuna